*Asterisco*

Se você é um Millennial como eu, não deve ter vivido uma adolescência muito diferente da minha na escola. Sei que acabei de contar uma parte ruim, e fiquei pensando nisso entre a página anterior até esta. Isso me levou também a boas e deliciosas lembranças. A primeira é “Nobody’s fool“, da Avril Lavigne. Eu não precisava de fones de ouvido para ouvir minhas músicas preferidas, o tempo todo, em loop na minha mente. Acho que não preciso até hoje, para ser muito sincero. A diferença é que tenho fones de ouvido.



A segunda lembrança era assinar os cadernos dos amigos, as camisetas, as calças, as carteiras e as paredes. Ser adolescente é, graficamente, sobre desenhar seu nome em todo lugar. É uma tentativa de deixar nossa marca em tudo, e lembrarmos que fomos amados, e não odiados. Eu não faço a mínima ideia de como isso acontece nas escolas, mas percebo que naquela época, todo mundo já era expert no desenvolvimento de marca pessoal. Cada um tinha sua forma de assinar. E eu tinha a minha, desde os 13 anos.

No começo do ensino fundamental, tínhamos o hábito de visitar bibliotecas para fazer trabalhos de escola. Estou falando do nordeste brasileiro em 1999. Ou melhor, estou falando da periferia de Maceió em 1999. Os computadores e a Internet sim chegariam, mas lá em 2002. Enquanto esse futuro não aparecia, lá estava eu na biblioteca do SESC, em volta com os volumes da Barsa, para escrever mais um trabalho, almoçar e entrar na sala de aula com mais uma capa desenhada: meu jeito de chamar a atenção para a beleza de um trabalho e ganhar uma nota maior. Eu sempre barganhei desenhando, e isso meio que destrói a imagem inocente do adolescente que eu tinha de mim mesmo.

Algo me chamava atenção naqueles livros enormes: tudo o que precisava ser escrito não cabia no livro em si, o que obrigava o editor a usar um ardiloso recurso: a nota de rodapé. Para conectar o texto principal às suas referências, um caracter especial é utilizado: o famoso asterisco (*). Aquelas estrelinhas pulando no meio do texto me levavam a outro lugar onde aquela linha faria todo o sentido dentro de suas próprias entrelinhas. Era fascinante. 

Desde então, comecei a escrever o meu nome com um asterisco de lado. Nessa época, “Jefinho*” e anos depois, “Jeff*“. Quem me tinha no MSN messenger lembra bem disso! Olhando para trás, vejo que a mensagem que eu queria passar é que o meu nome sempre deveria ter um asterisco ao lado. Por trás daquele asterisco, notas e notas de rodapé para esclarecer o que você apenas lê como “Jefferson”. São nove letras, e enquanto olho meu sexto cabelo diferente no intervalo de um ano em meu espelho, penso que nove são pouco para tantos caras que moram no meu mesmo corpo.

Quando veio o momento de desenvolver a minha marca, o ponto de partida realmente foi esse, porque nada me representaria melhor e fecharia o ciclo que começou lá na escola. Eu encontrei o mesmo tipo de forma isométrica nas marcas dos anos 50 e 60, o ciclo do modernismo, que sempre me inspirou no design gráfico e nas paredes da Panamericana. Se eu quisesse ter uma marca, ela seria modernista, então eu sabia mais ou menos que tipo de letra procurar para compor o desenho.

Já era 2019 quando comecei a escrever esses capítulos que estamos lendo. Comecei a pensar que já tinha sido “meio” alguma coisa o tempo todo. Meio designer, meio jornalista, meio igreja, meio crente, meio marido, meio filho, meio publicitário, meio ilustrador, meio animador de festa infantil, meio comediante, meio digital influencer… E a lista poderia continuar. Decidi que era a hora de ser todo eu, e mais ninguém. O nome de usuário disponível no instagram era um sinal que tinha escolhido a marca certa. E escrever numa fonte básica e modernista de uma vez, também. E, como eu fazia desde menino, colocar um asterisco do ladinho. O raciocínio de todo o meu crescimento até aqui se transformou em desenho e lá estava na tela: TodoJeff*.