(Not) The End
Eu amo o pôr-do-sol. O tom amarelado que ele confere às coisas, deixa tudo mais vibrante e melancólico ao mesmo tempo. Essa seria uma definição que dariam facilmente a mim mesmo: vibrante e melancólico. Alegre e nostálgico. Esperançoso e triste… Ao mesmo tempo. Quando decidi pelo casamento, decidi por esse horário do dia. Me lembro de quantas reflexões à beira do mar enquanto o crepúsculo acontecia. Um programa perfeito para mim, envolve esse horário.
Uma das narrativas do Gênesis mostra que Deus descia para o jardim do Éden para conversar com o homem no pôr-do-sol. Os judeus contam o começo do dia nesse horário exatamente por esse motivo. As ondas alaranjadas do céu de São Paulo no outono são um lindo prenúncio de que a noite vai chegar. E, com ela, a inspiração, a festa e a magia incerta que só ela consegue me trazer. Quando pude assistir uma aula ao vivo de Leatrice Eiseman (a presidente do Pantone Color Institute), ouvi sobre seu entendimento sobre coloração pessoal. Em vez do tradicional método de coloração em volta das estações do ano, ela usa a natureza e as horas do dia como padrão para o modo como visualizamos cores.
Eu sou o que esse estudo chama de pessoa “sunset“, ou seja, minhas cores pessoas são as mesmas do pôr-do-sol. Só isso encheria tudo de significado e me ajudaria a escolher quais as cores que usaria para me representar, em meu próprio projeto. Quando comecei a criar o todojeff, eu tinha em mente uma atmosfera romântica também. Design, por tudo o que eu já tinha visto na internet, era tratado pelos seus profissionais como fardo, peso, medo ou problema. Eu me considero um romântico brega e incurável, então queria promover uma história que falasse sobre fazer bastante, mas fazer o que se ama fazer.
Quando penso em paleta de cores, normalmente passo longe do que deveria ser um pensamento mais técnico. Cor é sentimento, demonstração, uma forma de graficar a emoção. Pensar em cores é pensar em cenário: onde essa história vai acontecer? Para que palco eu vou trazer clientes para comprar um determinado produto? Que sensações este enredo deve causar em quem vê? A minha escolha final teve esse fator determinante para uma decisão. No caminho, algo me surpreendeu.
Eu sabia que queria contar a história por trás do meu trabalho. Nada mais sensato que eu quisesse transformar meu portfólio em capítulos. Eu também gostaria de ter uma sessão mais “blog”, onde eu pudesse falar sobre o mundo e todo mundo. Isso seria independente de um diário com páginas únicas “arrancadas” do meu diário pessoal: a essa sessão eu gostaria de chamar de “Younico” desde sempre. Por último, um espaço de conceitos chave, onde eu pudesse discorrer sobre design livremente. “Keytool” é o nome de uma ferramenta que não existe nos softwares mais conhecidos de edição gráfica, mas que faz completo sentido tecnicamente.
Desde o começo da pandemia, minha produção diária tornou- se muito mais gráfica do que digital, me envolvendo em processos considerados mais “antigos” como a aprovação manual de provas. Isso me envolvia mais com a escala CMYK de cores (utilizada para impressão) que a escala RGB (que usamos nos próprios computadores). Qual foi a minha surpresa ao entender que os nomes das categorias que tinha criado para o projeto eram:
Capítulos
Mundi
Younico
e Keytool.
Ficou pronto na minha frente: CMYK. Ciano (azul), Magenta (rosa), Yellow (amarelo) e K (Black). Quando juntei as quatro cores e as tonalizei, eu tinha o meu pôr-do-sol. Aquela era a cena perfeita para abrir o livro e começar o capítulo 1. Era para onde eu gostaria de trazer as pessoas para me ouvir. A tonalização das cores me deu o aspecto romântico e nostálgico que eu gostaria, e o encaixe disso com o espírito da marca foi muito natural. Era algo com cara de anos 60, com cores dos anos 60.
Seguindo a linha de cores “sunset“, coloquei mais seis tons auxiliares que me ajudariam a completar todo esse entardecer à medida que os capítulos andavam. Cores que combinam bem se eu as escolhessem para acompanhar fotos minhas ou simplesmente seriam agradáveis ao estar juntas. Tudo mais “lavado”, mas com personalidade: castanhos, verde-musgo e um tom de amarelo mais dourado.
Com os primeiros doze capítulos previstos, comecei a trabalhar em uma construção que funcionasse bem no todo do projeto. O Fernando me ajudou a compôr um caminho surpreendente entre as quatro primeiras cores principais na formação dos posts no Instagram antes do primeiro capítulo. Ainda me lembro dele me dando bronca sobre alguns posts que eu gostaria em amarelo, e que ficariam melhor em rosa. Escrevendo mais de um ano depois de nossas conversas, vejo que ele estava certo.
Enquanto isso, o Orlando construía o site e me entregou algo surrealmente bonito. Eu não poderia ter pensado melhor do que ele, e fiquei feliz em não ter quebrado tanto a cabeça para as soluções da página. É claro que passamos nervoso juntos, como normalmente acontece nos projetos em que estamos envolvidos. Uma semana antes do lançamento ainda estávamos organizando onde cada coisa ia ficar, mas ver tudo tomar forma me emocionou. A cor do plano de fundo lembrava um livro envelhecido e as cores, junto do design de usabilidade davam a cara de não se ver algo tão velho, nem algo tão novo. Escolhi uma fonte serifada para o todo, para transmitir a ideia que você sempre está lendo um livro, mesmo que seja um blog. Minha intenção é que uma pessoa deslize os dedos sobre o site com carinho, como faz com um livro físico, sentindo a textura do papel.
TodoJeff.com foi lançado em 21 de junho de 2020, no auge da pandemia de coronavírus. Minha amiga Ju Françozo me inspirou a fazer uma festa em casa, me enviando materiais para montar um picnic na sala de casa. Comprei muitas flores e me dei de presente, enfeitando tudo com elas, usando a paleta de cor que tinha escolhido semanas atrás. O que eu imaginava que seria uma celebração de amor com as pessoas que amam, virou uma festa sobre amor próprio. Estava ali, cantando parabéns para mim mesmo, enquanto na Internet, o Capítulo 1 começou a ser lido.
“— Todos aqui buscamos reinvenção, certo?”
Eu não consigo precisar o que estava buscando lá no começo. E talvez, isso te surpreenda. Quando comecei o projeto, sabia que teríamos doze capítulos. Não sabia sobre o que se tratava. Uma voz forte dentro de mim dizia que algo poderoso aconteceria no fim de tudo. E, para variar, minha intuição estava certa, como sempre esteve certa em mais de três décadas de vida. “Tudo vai mudar no final”.
Não, eu não tenho tantas novidades assim para contar, mas te digo que a vida já é bem diferente agora, do que lá no começo. Hoje sou plenamente consciente de quem sou, depois de ter perdido pelo caminho tudo o que aparentemente me representava. E, enquanto posso dizer que vivo um encontro com o amor verdadeiro todas as manhãs, enquanto aprendo a me amar. Para quem procurava uma paixão para viver e começar de novo, posso dizer que essa jornada me trouxe de volta a vontade de seguir sonhando.
De um modo, na minha opinião, muito óbvio, te digo que este…