Os que caminham comigo a mais tempo estão visitando estas páginas e me procurando, tentando ler o Jeff codificado por aqui. Eu tenho muita expectativa que eles já estejam se divertindo muito assim que chegaram. Se você não me conhece, ou não tem meu telefone em sua lista de contatos, eu já te peço para se acostumar com uma frase que vai ficar bem recorrente nesta primeira temporada:
Vamos lá: quem me conhece sabe que eu não sou um cara organizado. A vida adulta e o casamento me forçam a desenvolver minha capacidade de organização. Minha esposa é uma mulher metódica e disciplinada ao extremo. Quando me casei, eu citei em meus votos que “criaria lindos dias emoldurados dentro de nossas casas, para nossa família”. Eu achava que isso se tratava de pintar paredes, fazer músicas, ou escrever poesias no espelho. Ela entendeu que eu seria responsável por manter tudo limpo, arrumado e organizado. Cada um com seu jeito de entender “eu te amo”, não é mesmo? Foi quando me peguei assistindo vídeos instrutivos de personal organizers. Uma delas, conhecida da minha esposa, dizia triunfantemente no instagram stories:
”O que não tem lugar para morar dentro da minha casa, eu não devo comprar
- Personal organizer about life
Para além de me fazer pensar antes de querer comprar todas as peças lindas da coleção de Tânia Bulhões sem saber se elas cabem nos meus armários, a vida organizando minha casa por seis anos (quando esse texto foi escrito) me mostrou uma realidade presente em toda a nossa existência: tudo, absolutamente tudo, ocupa um espaço. Cada coisa tem o seu lugar, e nosso coração cheio de esperança vive na expectativa de que a “bagunça” do mundo acabe. E o que vai acontecer nesse dia? Tudo “voltará ao seu lugar”. Dois corpos não ocupam o mesmo espaço, o que significa que cada um deles tem o seu próprio lugar para ocupar.
Na era em que apelamos por testemunhas digitais para quase tudo o que fazemos, a ideia de pertencimento é algo com o que todos dialogamos. Eu pessoalmente acredito que todos estão na busca do seu habitat. E nem sempre o nosso lugar é onde nascemos e crescemos. Minha própria história atesta isso. A de muitas pessoas, também. Meu lugar fica longe de onde nasci porque não é um espaço geográfico. A famosa frase sobre buscar “um lugar ao sol” tem a ver com um anseio que, me atrevo a dizer, é comum a todos: estamos sempre numa jornada rumo ao nosso lugar.
O caminho é tortuoso e envolve todo tipo de aventuras. Não questiono mais a procura das pessoas, mas é fato que muitos foram os que se machucaram gravemente para encontrar esse espaço de onde se tem a sensação que é possível responder todas as perguntas mais difíceis da existência.
É onde a própria existência faz sentido.
De algum modo, eu também estive aí: batendo portas, entrando em projetos, aceitando participar de reuniões (das quais queria muito voltar da porta), tendo encontros, formalizando conversas, experimentando bebidas amargas, assinando contratos, virando noites, trabalhando muito, crescendo muito, entrando em carros de fuga, fazendo contas e procurando até que chega aquele dia em que você finalmente percebe que você mesmo era só uma conta, uma função, um número. Uma peça para o sucesso de alguém. Um fator. E é inevitável fazer a pergunta: em que lugar do mundo eu sou realmente uma história? Onde eu aconteço de verdade?
E quando eu falo sobre ter um lugar para chamar de “meu”, não estou sendo simplista. Passa bem longe de mim desprezar os lugares que ocupo agora, ou os espaços importantes para a minha vida hoje. Mas, minha teorização sobre “achar o meu lugar” é antiga. Desde adolescente sou encantado pela ideia das utopias (meu primeiro blog se chamava “U-topos”, que quer dizer “lugar nenhum” ou “um lugar que não está em nenhum lugar conhecido. É dessa expressão que nasce o termo “Utopia”). Provavelmente, a minha intuição já sabia sobre a existência de um lugar que, uma vez encontrado por mim, seria possível ver minha história ser contada, tudo em mim passar a funcionar e, então, serei lançado para onde deveria estar.