Nossa geração só conhecia o termo “pandemia” no dicionário e nos livros de história, mas não saberíamos como entrar ou sair de uma dessas se nunca o fizemos antes. Ok, como humanidade e civilização, já enfrentamos pandemias na história, mas eu sei que você me entende quando digo que nunca sobrevivemos a uma com nossas próprias mãos.

Quase todo mundo perdeu de vista os planos para 2020 com a declaração de uma pandemia global. Quase todo mundo. Eu não. Você está lendo meu maior plano para o primeiro ano de uma década nova (por mais polêmica que essa declaração seja. Tanto quanto ao “maior plano” como o fato de ser 2020 o começo real de uma nova década). Eu pensei nessas páginas por anos, para que elas estivessem aqui do jeito que imaginei.

Em março, entramos em nossas casas e eu não saberia quando sairia. Enquanto escrevo estas linhas, ainda não fiz nenhuma saída. Lembro-me da tensão que eu carregava ao trazer minha estação de trabalho do escritório para casa, de como eu não fazia ideia por quanto tempo precisaria ficar confinado. Como você, eu também imaginava estar livre agora.

Eu me lembro quando fui a uma festa de aniversário de uma amiga muito querida no meio desses tempos de quarentena. Passado o parabéns e já na fase da socialização, uma pessoa solta uma pergunta que me inspirou pelos meses seguintes:

Que países vocês gostariam de ter conhecido no mundo de antes?”

Ri. Respondi à pergunta. Saímos da videoconferência e aí fiquei pensativo. Mundo de antes. O mundo de onde saí em Março, quando subi o elevador com as caixas que carregavam meu equipamento de trabalho, nunca mais seria o mesmo de novo. Tudo mudaria. E ninguém fazia a mínima ideia de como ou em que direção iriam as mudanças. Meses depois, quando as pessoas no meu país parecem perder o medo do coronavírus mesmo com o aumento do número de mortes, eu considero que a conclusão desse pensamento segue bem incerta.


Inventar um mundo novo

Longe da poesia de que temos uma “página em branco” para escrever “depois que isso tudo passar”, é fato que as soluções para a vida nos próximos anos são responsabilidade toda nossa. Em cada área de atuação e acúmulo de conhecimento, os pioneiros podem começar a articular-se para imaginar quais serão as ações que serão apresentadas como resultados das reflexões que o tempo de isolamento social trouxe. Não estou afirmando que o farão, mas é notório que podem fazê-lo.

A ideia aqui é ser mais prático que John Lennon em “imagine”.

Ficou possível pensar num mundo onde o autocuidado (incluindo a higiene pessoal) e a saúde mental sejam prioridade. Um tempo onde vamos valorizar mais nosso tempo no coletivo, incluindo as reuniões de família. Dá pra imaginar um mundo onde vamos respeitar nossa relação com o meio ambiente. Uma realidade onde vamos valorizar o trabalho daqueles que prestam serviços essenciais, incluindo a educação de nossas crianças. É possível pensar num mundo onde vamos valorizar o espaço de nossas casas como ambiente de produtividade e desenvolvimento, e não apenas cubículos para dormir. Ficou mais fácil ver a comunicação como um privilégio e nossos relacionamentos como parte importante de nossa vida e bem-estar.

Quando eu era adolescente eu imaginava que o futuro teria pranchas voadoras e roupas com luzes iridescentes. Hoje eu vejo que preciso de muito menos tecnologia para chegar ao mundo onde quero viver.

Como se parece o seu novo mundo