(Ou, o prólogo do sexto capítulo)
O termo “porta aberta” é uma das expressões de maior esperança na nossa língua. É quando contamos sobre um sonho realizado, uma conquista, uma benção, um milagre. Tudo se resume de modo satisfatório simplesmente ao dizer: “uma porta se abriu“. O Natal estava se aproximando, encerrando o fatídico ano de 2020. Bem, ao menos numericamente. Todos tinham consciência de que as restrições da pandemia teriam continuação por mais tempo. Por mais que um ou outro acreditasse que, bastava virar o ano e todos já poderiam atirar as máscaras para o alto, como numa cerimônia de graduação.
Escrevendo essas páginas, o capítulo 5 parecia ir muito bem. A história estava bem contada, as pessoas envolvidas, e eu tinha passado do desafio de tornar públicos alguns dos pesadelos do começo da minha carreira de um modo aberto, porém limpo e educado. Minha conexão especial com as festas de fim de ano me levava a crer que escreveria e publicaria sobre elas enquanto os preparativos aconteciam “no mundo real”. Foi quando percebi uma realidade contundente: fechar este ciclo não seria tão fácil como eu imaginava.
Esta página é o começo da metade de tudo. Exatamente aqui, escrevendo esta linha, eu concluo que chegamos à metade do percurso. E nada melhor que esta parte se pareça mais com uma página do meu diário pessoal do que qualquer outra coisa. Quando eu comecei, imaginei que seria completamente possível conseguir doze trabalhos dos quais estaria orgulhoso o suficiente para acrescentar ao meu portfólio, de modo espontâneo e remunerado. Revisei a lista do que poderia publicar. Alguns sim para o primeiro trimestre, nenhum para dezembro. Isso mesmo, como você previu, eu me desesperei.
Conversando com o Fred Oliva (o mesmo Oliva do primeiro capítulo), que a essa altura já tinha se tornado uma pessoa próxima, comentei sobre a situação e ao seu melhor estilo, tive uma frase como devolutiva: “para quem você daria uma campanha de Natal de presente?” A realidade era factível, pois eu precisava de um projeto digno de virar um capítulo, que não repetisse os projetos anteriores e fosse consoante ao clima de encerramento de ano. Eu precisava pedir que alguém pudesse colaborar comigo. Ou seja, bater portas.
Isso me lembra a história do Natal. Em 2020, no Brasil, não há uma alegria completa em declarar-se cristão. Mas é isso, eu sou um cristão desde criança e o Natal sempre foi uma época muito ocupada com grandes celebrações. Um ano atrás eu estava numa das maiores casas de show em São Paulo, acompanhado de uma equipe de mais de 400 pessoas, para fazer acontecer um espetáculo beneficente de Natal. O cenário atual é bem diferente, mas confesso que minha alegria em pleno 24 de dezembro, é a mesma.
Maria e José encontram uma Belém lotada para que pudessem integrar os números do censo do Império Romano. Ali, Maria ameaça entrar em trabalho de parto e eles começam a bater de porta em porta nas hospedarias, em busca de um lugar para ficar. A verdade é que a família de Jesus tinha dinheiro para o devido pagamento. Não eram milionários, mas nunca foram miseráveis. O que faltava era alguém que lhes abrisse uma porta. A porta que acabou abrindo, era inusitada. O perfil de alguém que se abre para uma nova situação, que se permite ter a rota alterada, geralmente é inusitado. É para essas pessoas que um milagre nasce.
O hospedeiro estava aberto para algo novo. Ele oferece o estábulo como local para executar o parto da criança. Ele não sabia de quem se tratava, mas naquela noite, o maior dos tesouros nasceu dentro de sua casa, junto de seus animais, os quais me atrevo a dizer que também tiveram que se abrir para uma noite inesperada no cantinho deles.
Os pastores que vieram estavam abertos para algo novo. Não temos os detalhes, mas eles estão trabalhando quando recebem a notícia de que “na cidade de Davi, nasceu o salvador”. E trabalhando com rebanhos inteiros de ovelhas. Como se deu a logística de deixar todos os animais em algum lugar para achar o estábulo certo? Não é toda noite que se assiste uma apresentação celestial, cantando uma melodia de paz. Eles poderiam considerar que tinham enlouquecido, mas deixaram a porta aberta para viver uma noite inesperada.
Os pais da criança estavam abertos a algo novo. E eu posso começar de trás para a frente: conceber em meio ao delicioso cheiro de animais, sobre um monte de feno e usar uma chocadeira de galinha como berço. Fazer uma longa viagem com uma gestante de 38 semanas sobre um burrico. Seguirem casados mesmo depois de descobrirem uma gravidez que não foi resultado de nenhuma relação sexual entre eles. Entender que no meio da loucura que suas vidas tinham se tornado, eles eram os cuidadores da salvação do mundo inteiro, para todas as gerações.
Deus estava aberto para algo novo. A verdade é que ele sempre faz novas todas as coisas. Naquela noite em Belém, o Criador do mundo abria mão da parte mais preciosa de si mesmo, sua própria vida, e se derramava pela humanidade. O motivo pelo qual tudo foi feito se tornava um bebê. O milagre da vida, que já era tão antigo, entrou em sua edição para que a morte não tivesse mais poder do que a esperança em nossa história.
Como José, eu continuei batendo as portas. Algumas, que eu considerava certas ou óbvias, simplesmente não abriram. Mas eu estava aberto para algo novo.
(Continua na Parte 1 do Capítulo 6)