Desde criança eu escuto pessoas falando coisas do tipo “Jefinho, não entregue 100%”. E no fim, eu sempre fui contra. Não me convide para sair de casa se eu não puder estar inteiro onde quer que seja. Eu parafraseio Frida Khalo quando digo que onde não posso ser inteiro, eu nunca vou “me demorar”. Não faço meia participação. Não digo meia verdade. Não entrego meio trabalho. Não faço meio esforço. Porque não existo de outra forma.
Eu cresci em uma geração que viu as redes sociais nascendo e enfrentando uma onda de medo e críticas sobre o quão autêntico alguém poderia ser neste novo ambiente de informações.
Essa “precaução” com as postagens nos coloca (dez anos depois) no cenário tóxico onde redes como o Instagram está mergulhado hoje: as pessoas desistem de se abrir, criando personas socialmente aceitáveis para causar boas impressões pessoais ou profissionais. Há uma repulsa ao defeito, ao erro, à própria sombra, que todos nós carregamos a cada manhã. Isso me lembra o Brother Lawrence (1614-1961), que defendia a exposição de nossas almas e apontava que uma alma que não queria se mostrar, na realidade, vivia uma vida empobrecida. Essa frase sempre me intrigou: não faz sentido falar apenas sobre a parte “boa” das coisas.
Trabalhar com redes sociais por quase dez anos me fez concluir que uma mentira nada mais é do que uma história contada pela metade
Hoje eu aceitei que ser íntegro é não deixar pela metade. Não sou do mais ou menos (E até se escolho ser menos é uma forma intensa de resposta, porque não aceito a omissão pela omissão). Uma parte só é bonita quando seu todo é compreendido, nas mãos de muitos. É assim com Ele, que se entregou todo pra quem não queria receber, até a última gota.
Este pensamento veio na mesma época em que eu era pressionado por todos os lados para colocar meus trabalhos em exibição na Internet. A falta de tempo e o cansaço extremo com minhas entregas naquele momento não me permitiam nem planejar nada a respeito. Mas, um dia, uma ideia retornou de 2006 até o tempo presente: “e se você contar toda a história”?
Contar todo o meu processo criativo passa pelos capítulos onde me envolvo com os personagens do meu trabalho, atravessa a minha visão de mundo, o meu entendimento do fazer criativo como ferramenta essencial, a chave de fenda (Key Tool – em inglês) que conserta o mundo. Tudo isso é nutrido pelo meu entendimento de indivíduo (Yo – em espanhol) único e especial, um entender que eu sonho em ver todas as pessoas vivendo e compartilhando.
A minha resposta à famosa pergunta sobre o que eu gostaria de ter escrito na minha lápide, atualmente, é bem simples: