Costela de Adão

“— Todos aqui buscamos reinvenção, certo?”

Estou escrevendo no começo da década de 2020. Nos últimos anos eu vi muitos momentos decisivos e importantes da minha vida completando dez anos. Não só para mim, mas para toda a Geração Y, a qual eu faço parte. Estamos vivendo o fechamento de ciclos para várias paixões consumadas.

Sim, eu acredito em paixão. Não há criação sem paixão. E isso daria um tratado teológico, mas ainda não é o caso. Por outro lado, acredito que as pessoas crescem sendo treinadas em paixão. Na adolescência, nos apaixonamos fácil. Nos apaixonamos por tudo. Nos apaixonamos rápido. Desapaixonamos na mesma velocidade. Esse treino serve para o momento em que vamos encontrar as convicções do nosso coração, e decisões aparentemente pequenas que mudarão o nosso destino. 

O ano era 2019 e eu tinha chegado ao limite da criação sem paixão. E quem olha a minha produção à época pode ficar um pouco surpreso com o que acabei de confessar. Todo o ciclo de dez anos antes dali havia terminado e fazia um sentido incrível. Mas, de modo surpreendente, não me levaria a uma história diferente para além daquilo. Tudo o que eu queria era começar uma história nova. Estas linhas são uma celebração de que consegui, enquanto relato o processo de como foi viver isso em apenas um ano.

E eu decidi enviar um áudio para a Ju Françozo.

Juliana é uma das pioneiras no mercado de festas personalizadas no país. Nessa época, ela completava uns 13 anos de jornada e muita história pra contar. O meu contato com ela era um tanto antigo porque minha esposa (que a conhecia de longa data) sempre me dizia que nosso estilo de criar era parecido. Ela viu uma parceria que ninguém conseguia ver, até então.

Com a casa cheia de caixas de mudança pelo meu apartamento, escuto aquela pessoa falando coisas positivas para os seguidores no instagram. Naquele momento de incerteza, a voz que dizia para não desistir dos sonhos e acreditar em mim mesmo me chamava à atenção e isso era meio lógico.

Ju sempre está lá para conversar, se você precisar. Se você tiver um bom assunto, ajuda. E não precisa ser um amigo para isso. Ela sabia que eu era “o marido da Deinha” e isso nos levou às primeiras conversas. Falamos de vida profissional e da minha insatisfação. Depois de conhecermos a realidade um do outro e algumas mensagens sobre um trabalho em equipe, ela me compartilhou que também buscava uma mudança na voz de seu projeto pessoal e estava para lançar um curso voltado às produtoras de eventos para que elas pudessem usar o Instagram de acordo com a inteligência de negócio que faz a seu próprio perfil ser uma referência para os profissionais do mercado de festas.

E aí começou a era das mensagens de áudio. Eu nunca fui muito adepto desse tipo de comunicação até ingressar a equipe da Ju. Hoje não sabemos mais contabilizar, em horas, quantas mensagens de áudio compartilhamos em apenas um dia. Naquele momento, ela me apresentava as cores e as referências de como o curso seria. Uma marca foi desenhada por Agatha De Faveri, uma das melhores desenhistas que conheço. Recebo este material e as fotos que formavam o material de lançamento. Frio na espinha. Mais de 120 mil seguidores. Um nome forte num determinado mercado e eu era responsável por dar visual à reinvenção de alguém que eu nem conhecia direito.

Notei um elemento que se repetia nas fotos que estavam comigo. Ele também estava presente nos principais posts da conta. Aquela forma me salta aos olhos e tenho um insight: eu preciso ser digitalmente quem ela é artisticamente, ao entregar uma mesa. Ju Françozo é conhecida por apresentar pinturas e aplicações diferentes deste elemento que colori digitalmente e fiz uma inserção de desenho linear à mão:

Isso mesmo. Uma costela-de-adão.

Me lembro que entreguei a primeira arte e meu corpo tremia. Não fazia a mínima ideia do feedback que receberia. E ele veio emocionado, do jeito que só a Ju sabe fazer. Eu acredito que encontramos um no outro alguém que criava para além da técnica, mas do próprio coração. O que posso dizer é que não paramos de trabalhar juntos até agora.

Lembro como a equipe que filmava o curso ficou surpreendida com a naturalidade do processo que nos levou à identidade do Instagram em Festa. É interessante notar que a paleta de cores do projeto foi montada para ser harmonizada ao ensaio fotográfico específico em questão (conduzido magistralmente pelo Felipe Vianna), mas ela segue nos acompanhando. O projeto ainda não foi completamente lançado, mas foi um marco tão grande para a Ju Françozo, que se tornou um redesign de sua própria identidade visual.

Estava posta a intenção de recriar o nosso mundo. Para isso, seria preciso retirá-lo do caos.
[Continua]