Começar do zero
— Oi amiga, tô aqui. Posso falar agora sim.
— Preciso fazer uma chamada de vídeo contigo, se prepara aí que tenho algo sério pra te contar
— Amiga, tá grávida?
— Não entendo porque sempre que quero contar algo tem que ser um anúncio de gravidez! Não é isso dessa vez!
— Então vocês só podem estar de saída da igreja…
E era isso. Eu estava sozinho em casa, num fim de semana de descanso (e com uma touca de hidratação na cabeça) quando Vivian e eu começamos essa conversa. Era o tempo deles deixarem a igreja que ajudamos a plantar desde 2016. Naquele momento, tomar a mesma decisão era algo que estava em níveis mais elevados que apenas “passar pela minha minha cabeça“. Como era de costume entre eu e Vivian, as posições eram óbvias desde 2006: ela sempre sabendo para onde ir, e eu sem saber o que fazer.
Porque no fim, Vivian sempre foi o exemplo, de tudo. Desde que a conheci era inevitável fazer o caminho de comparar o que eu fizesse ao que ela faria. A líder mais proeminente, a administradora mais exata, a pessoa mais corajosa, a cantora mais afinada, a melhor pregadora. Fizemos parte do mesmo ministério por anos, e as situações ao fazer companhia a ela eram as mais embaraçosas. A mensagem era clara: você nunca vai conseguir ser tão bom quanto ela. Me lembro com humor do dia em que ela e Pedro mudaram o status do Facebook. Fui fofocar a respeito com a minha melhor amiga, que viria a ser minha esposa, sobre o fato. A resposta dela foi:
— Pois é, a Vivian mudou de status no Facebook e a gente não.
Há quem diga que a minha vida sempre foi muito confortável.
Antigamente, eu protestava a quem fizesse esse tipo de conclusão na minha frente. Hoje, essa conclusão não mudou, mas eu respondo mentalmente com um sorriso de canto. No fim, essas pequenas coisas ficaram pequenas à medida que me distanciei delas. Ali, no momento, só eu sei o quanto era dolorido. Valeria a pena permanecer num contexto onde, por vinte anos, eu me esforçava em fazer o melhor, e entregar tudo nunca seria bom o suficiente? À medida em que Vivian contava sobre seu objetivo e sonho no futuro, essas perguntas rodeavam a minha mente. Hoje, posso confessar que não estava completamente atento naquela videochamada.
Resumo da ópera: Vivian e Pedro abririam uma nova igreja e levariam a cabo o seu sonho de começar sua própria igreja local. Eles foram especializados no assunto e não seria interessante ver o tempo passar sem realizar esse sonho. Pude manifestar meu apoio e vontade de ajudá-los. Independente das circunstâncias, eles fazem parte de um grupo de amigos que viveu muitas coisas comigo, me viram crescer, casar e me posicionar profissionalmente. Testemunharam o meu melhor, e um pior sobre o qual talvez nunca escreva. Se tornaram minha família por causa disso. Parente é assim, não é? A gente aceita com os defeitos todos, sem muita perspectiva de que a pessoa vá mudar ou evoluir. Mas a gente recebe. É nossa família, e damos risada das situações.
Naquela tarde de sábado, me lembrei que eu tinha feito o convite de casamento deles, em 2012. O mesmo ano em que decidi que também me casaria. Fiquei feliz em ter sido convidado para participar desse momento tão importante na vida deles. Decisivo, eu diria. Eles me convidaram para visitar a casa deles em Campinas, para onde haviam recém mudado e começariam os trabalhos de abertura da igreja nova. Teríamos uma reunião de briefing e daria início o trabalho de construção de marca.
Senti que provavelmente seria o último trabalho envolvendo aquela palavra tão linda e dolorida ao mesmo tempo: igreja. Era a hora de começar de onde comecei. O zero.
O raciocínio completo sobre “começar do zero” já está disponível no meu Behance.