Enquanto isso naquele momento
Se eu pudesse descrever o Victor agora, ele seria um chapeleiro maluco. Ou uma máquina de grandes ideias, com engrenagens rolando e soltando um vapor ritmado. As duas personas caberiam lindamente num filme do Tim Burton. Dez minutos com ele e você vai ouvir pelo menos três possibilidades de projetos e negócios. Pelo menos em dois dos três, ele não faz a mínima ideia de como viabilizá-los, mas todos ficam de acordo que são, no fim, boas ideias a amadurecer a curto prazo.
Se não fosse pelo desenrolar deste capítulo, eu não conseguiria descrevê-lo dessa forma. Ele era um dos fotógrafos que ladeavam minhas produções criativas nos últimos três anos. E, claro, era o famoso fotógrafo de casamentos. Não que ele fosse tão conhecido, mas ele estava presente, fotografando os casórios que eu era convidado. O mais diferente deles, realizado através de uma transmissão de instagram (quando nem se ouvia falar em Coronavírus), foi registrado por ele também.
O seu trabalho era digno de admiração. Uma apresentação uniforme com uma coerência impecável. Todos os ensaios com filtros que conversam entre si, um olhar sensível, além de trazer brilho do modo peculiar que agrada aos noivos millenials na segunda metade da década. Eu me casei em 2014, e por estar cansado dos simbolismos do casamento, um fotógrafo de casamento passava longe do que eu queria ver nas redes sociais, naquele momento.
“Aquele momento” era a concepção deste projeto, que origina a página que você está lendo. Isso mesmo. O que eu não saberia alguns dias depois, ao colocar cada capítulo na ordem que eu gostaria que aparecesse, é que o terceiro capítulo em minha lista caberia muito bem como quinto capítulo. O tempo passou e… Eu não tinha um terceiro capítulo. Fui salvo por um inbox.
Anos antes, eu confesso com todas as letras que tentei ser amigo do Victor. Fui impedido pela introspecção dele, e distraído por minha falta de paciência em fazer amigos novos. Eu já tinha andado por aí com placas escrito “venha ser meu amigo” e não me vejo fazendo isso de novo. Resumidamente, assim perdemos contato.
“Oi Jeff! Tudo bem? É o V.A.
Estive pedindo indicações sobre pessoas que trabalhem com construção de marca. Estou querendo muito mudar as caras por aqui. Fui direcionado a você e eu, obviamente, lembrei que você faz isso impecavelmente. Podemos bater um papo?”
Mesmo muito cansado, respirei fundo e vi que tinha uma possibilidade forte de um terceiro capítulo ali. Comecei a observar o que o Victor tinha já apresentado em suas redes sociais e percebi o quanto ele tinha um símbolo forte com as viagens, as jornadas (que podem ser diferentes locações de casamento, registros ou mesmo a profundidade dos casamentos), o filtro cor de café presente em quase tudo, e uma imagem que me marcou muito: uma bússola.
A marca atual do fotógrafo já era uma bússola, e de modo quase premeditado, ela não tinha os pontos cardeais e não apontava para nenhuma coordenada. Essa era a minha primeira visão sobre a construção daquela marca. O que eu não sabia é a imagem se tratava de um reflexo da realidade profissional e pessoal do próprio Victor, e escondia uma lição que eu também precisava entender: era preciso enxergar bem um norte, ou não chegaríamos a lugar algum.
(continua)