Os últimos anos me deixaram viciado em uma coisa: briefing.

Nem só de passeios em elefantes voadores sobre pontes de arco-íris vive um profissional de criação. Eu gostaria muito que essa imagem comum à maioria das pessoas que conhecem a minha profissão fosse totalmente real. Imagine o que é passar o dia tendo ideias e ser pago por isso? Ok, é 2020 e ainda não cheguei lá. No meu tempo presente eu preciso ter ideias, trabalhar nelas e passar um bom tempo de suor em execução.

Nem sempre é tão simples assim. As agências de publicidade, dentro do contexto da nossa atual sociedade da informação, levaram o design gráfico para um lugar automatizado. Fora de ambientes realmente acadêmicos, a conversa no âmbito da profissão está centrada em ferramentas, softwares, Instagram, pixels, resolução, vetorização, ilustração, tipografia e mais ferramentas. Eu acredito que tudo isso está na órbita do design, mas esse conjunto não é o centro da história.

O design gráfico é a mais universal de todas as artes. Está em toda parte, explicando, decorando, identificando – impondo significado ao mundo.

Quentin Newark

Eu acredito que este é o cerne de toda a questão. É em torno do que todos os “astros” do “universo do design” estão girando. Todas as ferramentas, todos os pixels, as escolhas de cores e tipos de letras, o modo como as informações aparecem e estão organizadas, no fim, apontam para um “sol” central que mantém tudo girando: o significado.

Sabe, eu amo Pinterest. Desde muito jovem amava colecionar referências nas andanças pelo google imagens, no tempo em que não dava tanto problema repostar imagens da busca direto em nossos fotologs (alguém aí velho o suficiente para lembrar disso?). De fato, se você conhece bem a ferramenta de referências já encontrou muito dela na decoração desta página. A sua utilidade é inegável e hoje eu já não vejo a viabilidade da criação de um bom moodboard (quadro de referências) sem ele.

Há algo que o Pinterest não sabe fazer: captar uma história. Quando estou diante de um projeto, preciso saber o que a pessoa pensa e como ela mesma visualiza o seu design pronto. Uns mais, outros menos, todos são capazes disso. No momento em que sou convidado para uma conversa que tem o objetivo de levantar um orçamento de design, eu percebo que entrei na história de uma pessoa. Eu não estaria ali se ela tivesse as minhas habilidades, então tudo o que faço é emprestá-las. Meu interlocutor poderá entender tudo sobre ferramentas de design por algumas semanas ou meses, através de mim.

No fim das contas, TodoJeff é sobre esses momentos em que começo a desenhar sonhos e projetos de pessoas enquanto caminho pela vida. A maioria das pessoas pode ver seus sonhos realizados ao fechar os olhos. Alguns conseguem descrever perfeitamente e esse é um briefing muito valioso. Mas, há um ainda mais incrível: quando aquela visão já se transformou em texto ou existe um rabisco sobre ela. Eu vibro, porque a parte mais difícil está pronta.

Comecei a escrever este texto depois de desligar o telefone falando com um amigo meu que mora na Austrália. O Robson foi uma das pessoas que me acolheu enquanto estive de férias na terra dos cangurus, em 2018. Ele me compartilhou sobre seu projeto pessoal e meus olhos brilharam quando vi várias artes prontas num editor de design online.

“- Ah Jeff, isso tudo é só um rascunho e está muito feio. Mas aqui eu tenho alguns layouts que eu criei sozinho mesmo, com essas cores. Enfim, sei que você pode fazer melhor”

Eu também sabia, mas eu estava feliz em ver aqueles rascunhos. Reunidas, muitas informações valiosas sobre cores, fontes, layout, formatos, estilos. Eu sabia como meu amigo via o seu projeto e entendia onde eu poderia melhorá-lo, por isso mesmo eu estava naquela reunião. E estava satisfeito por ver que eu tinha o mais importante já traçado, de modo muito claro.

O trabalho de outros designers em toda a história da internet reunido no Pinterest são referências incríveis, mas a referência mais poderosa de todas é a história que o meu design vai contar. Não é hoje que você vai me ver falando sobre semiótica mas todos os dias você me verá apontando para algo: 

Nem a vida, nem o design valem a pena sem significado