Este blog foi feito para falar sobre agora.

Eu amo falar de agora. Na verdade, sempre amei! Dia desses, achei um vídeo meu falando sobre as tendências de design (Design Trends) para o ano de 2013 (não vou fazer embed desse vídeo, mas se vocês quiserem me ouvir com crise de rinite, 20 quilos a menos e um som ruim demais, deixo o link). Design Trends sempre foi um assunto dos meus preferidos, e agora que tenho um blog para chamar de todo meu, o tópico não poderia ficar de fora.

Posts como este normalmente são feitos no começo de cada ano, ou no mês de dezembro, antevendo as próximas tendências. “Agora” é o nosso tema de publicações, o que me levou a fazer o mesmo texto, fora de época, abordando as tendências de 2020 não como elas serão ou poderiam ser, mas como de fato foram aplicadas. (Este é o motivo de eu não postar fotos de trabalhos neste post, mas publicações de projetos reais, de outros artistas, muitos que admiro.)

Quem determina as tendências?
Este blog não faz política, então o papo é reto. No mundo em que vivemos, a história é contada do ponto de vista do que venceu. Logo, quem determina o que vai ser tendência de design não é um coletivo de artistas tomando cappuccino em Paris. Os designers envolvidos nas maiores agências e escritórios do mundo, e algumas lendas vivas que também tocam seus negócios de design gourmet-alta-costura-sob-medida, vão determinando o que todos vão imitar se referenciar a partir de suas jornadas de trabalho. Uma história repetida que não é mentira: a percepção de mundo dessas pessoas e suas leituras atuais da realidade e conjunturas político-sociais influenciam totalmente o que vamos comentar daqui em diante. Bora lá?

1. Serifas apaixonantes
O tipo de letra que você vê os textos aqui no blog são fontes serifadas, onde os caracteres têm pequenas “barbatanas”. Elas são as serifas. As fontes dos títulos e menus são limpas e com pontas quadradas, por isso chamamos letras assim como “fontes sem serifa”. 2020 foi o ano das serifas mais lindas da vida. As fontes clássicas chegaram com tudo, consolidando um namoro que rolava desde 2016. Com desenhos ousados, essas fontes mostraram que era possível fazer ruptura com muita finesse.

 

 

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A “confirmação” do domínio da serifa como item de moda foi a chegada definitiva delas nos stories do Instagram, inclusive com o seu exemplo mais elegante e clássico, a Didot Font.

 

2. Dominação Tipográfica
Falando em texto, tudo foi sobre o uso criativo da tipografia em 2020. Foi possível ver que os trabalhos mais hypados do ano tinham o foco total em tipografia, usando o mínimo de imagens ou desenhos e explorando as letras, com seus vários tamanhos e pesos.

 

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Quando o desenho vetorial de formas aparece, ele dá suporte a texto escrito. As fontes se tornaram suportes de desenho das peças, o que abriu o caminho para o Alltype (uso apenas de texto em peças de design) com força total.


3. Dominação Tipográfica 2: O texto no caminho

Ainda seguindo as tendências que envolvem o uso do texto no design, foi notória a presença das linhas de texto fora de seu convencional. Elas estavam associadas a formas, criando desenhos através das frases. Vimos a aplicação da técnica “texto no caminho” na indústria da moda e principalmente nas redes sociais. 

 

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4. Texturas
Aqui eu começo uma trilogia chamada “Nostalgia do Futuro” (calma que vou dar o crédito do termo no fim da trilogia!). As peças abriram mão do liso para recriar um ambiente retrô. Logo, as cores receberam o auxílio das mais variadas texturas, com destaques para três específicas: granulados, envelhecidos e “papel colado”. Quem me segue no instagram já conhece meus posts pela presença de uma dessas três texturas, ou das três juntas!

 

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The 1975 é minha banda preferida, e tem o melhor design no mercado da música, definitivamente. Repare como a capa do novo álbum deles é uma fotografia de papeis impressos, sendo uma textura envelhecida de um modo muito único e natural.

 

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Aqui temos o uso de cores e da textura envelhecida, também de um jeito bem inteligente, sem soar artificial.


5. Cores

A “Nostalgia do Futuro” nos levou ao uso de cores que tentam recriar o cenário das décadas de 70 e 80. Enquanto o mercado têxtil da época tinha as candy colors como paisagem cotidiana, a distribuição dos primeiros computadores pessoais e a popularização dos aparelhos eletrônicos colocava as pessoas na frente do RGB puro. Verde, vermelho e azul em suas formas mais simplificadas. O design de 2020 uniu o melhor dos dois mundos, usando as cores suaves de peças das décadas referenciadas como base, trazendo um toque das três cores primárias para nossos monitores até hoje em seu modo mais cru. Vermelho, verde e azul sem tonalização: simplesmente vermelho, verde e azul.

 

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Post em azul, sem medo de ser feliz. Simplesmente azul RGB.

6. Nostalgia do Futuro
2020 marca o começo de uma nova década, apesar das controvérsias em torno desse cálculo. O que importa é que, em 2030, vamos nos lembrar dos dez anos passados como “anos 2020”. A década já tem nome de filme de ficção científica! Antevendo um novo mundo (e não fazíamos ideia que ele seria assim tão literalmente novo), uma narrativa distópica começou a ser criada, tendo o futurismo desenhado nas décadas de 70 e 80 para escrever os novos capítulos da humanidade em forma visual. Pegando este “fio da meada”, Dua Lipa compõe seu álbum chamado “Future Nostalgia”, que recebeu esse nome antes mesmo da composição da primeira canção.

 

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O futurismo foi um movimento que inspirou muitos artistas neste fim de década. Ao tentar imaginar o mundo depois do ano 2000, os artistas nos anos 80 pensaram num universo fantástico. Hoje, usar esses elementos é uma forma de homenageá-los, comunicando que nada daquilo funcionou.

 

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Projetos como “Chromatica” ,de Lady Gaga, exemplificam isso muito bem. O design de produto dos anos 70, envolvendo pequenas marcas monocromáticas (herança do modernismo) e textos técnicos quase imperceptíveis, aliados a símbolos fortes como o globo terrestre e formas pregnantes como a estrela de quatro pontas, se tornaram uma febre para a maioria das marcas, que em meio à pandemia de coronavírus, viram-se apenas com a internet para divulgar seus produtos.

Sendo assim, apenas uma peça não conseguiria explicar o todo de uma ação ou campanha. Nascem as “media walls”, inspiradas nos posters “lambe-lambe”, onde as campanhas precisam de todo um desdobramento para mostrar sua mensagem em cores, imagens e diferentes vozes. A diversidade ganha lugar na publicidade. Uma só campanha com várias paletas de cor, várias fotos, vários slogans. Isso já acontecia antes? Sim, mas nunca de uma só vez, no mesmo momento.

 

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Com o objetivo de simular o mundo real num ambiente virtual, quase tudo passou a ser apresentado como um simulacro da realidade, abusando das texturas de produtos prontos, já impressos, apesar de serem apresentados digitalmente. Aqui veio a onda dos plásticos e dos adesivos, que com certeza você já viu por aí. Os tais stickers, queridinhos do momento, são saudações a referências futurísticas do cinema como Mad Max e De Volta para O Futuro. Os ícones de marcas ultrapassadas na forma de tags, ou preços de máquina registradora, trazem o significado de que tais coisas são obsoletas (ou seja, o mundo até 2019 é obsoleto) e um novo tempo econômico se aproxima, transformando o que era cotidiano nos anos 80 em mera arte.

 

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Algumas tendências que estavam firmes para ingressar a 2020 acabaram não funcionando. Isso é fruto de um momento onde as áreas que usam da comunicação visual (moda, música, games, cinema, interiores) dialogam cada vez mais. As pessoas têm um poder maior sobre o design que “funciona” em seu dia-a-dia porque elas mesmas conseguem interagir mais sobre seu consumo, através do diálogo com marcas e influenciadores no ambiente das mídias sociais. Eu acredito que tudo neste tempo “entre décadas” anuncia um tempo novo, e nada como lançar mão de nosso passado mais disruptivo e emancipador para sentir essas gostosas saudades do futuro.