Finalmente… Gestalt

Estava bem complicado ter uma coluna de design e não falar de Gestalt, certo? Eu acredito que a turma mais acadêmica já estava torcendo o nariz para mim, mas seus problemas acabaram! A ciência que estuda a maneira como a nossa mente lê os estímulos visuais está aqui no blog, e chega com tudo apresentando seu princípio básico. Eu amo começar as coisas pelo começo!

Gestalt” é uma palavra que não tem uma tradução muito assertiva para o português. Criada pelos psicólogos Max Wertheimer, Kurt Koffka e Wolfgang Kohler nos anos de 1920, se trata de uma escola de pensamento alemão que influencia áreas como psicologia, arquitetura e design até hoje.

O princípio básico da Gestalt é a Pregnância da Forma (em alemão, “pragnanz”, que denota “simplicidade”). Toda a arte está fundamentada no fato que a construção da forma deve possuir uma estrutura simples, equilibrada, homogênea e regular. Na hora de criar uma arte, a unidade dos elementos deve ser levada em consideração, para que se crie o mínimo de complicação mental, facilitando a leitura e focando o processo mental na mensagem a ser passada pela composição, e não na composição em si.

Mesmo a base teórica vai afirmar que não é sobre a execução de uma peça de design, mas sobre o que você quer dizer com ela. O que é comunicado tem relevância maior do que a própria comunicação em si.

Eu aprendi sobre pregnância da forma com minha namorada na época. Eu, um designer muito jovem, sofria com o encaixe de uma determinada logo (feita por um escritório de design, diga-se de passagem) em meus layouts. Eu não consigo explicar o quão disforme aquilo era, mas simplesmente não fazia sentido encaixá-lo em camisetas, papel timbrado e outras peças simples do dia-a-dia. Foi quando decidi quebrar as regras e colocar tudo aquilo dentro de um simples círculo. Problema resolvido! O círculo é utilizado pelos designers da empresa mesmo muito tempo depois da minha saída, e minha namorada tinha a resposta: você tornou a logo pregnante. O que ela queria dizer, na prática?

Focando no design de marca, que é nosso tema por aqui na sessão capítulos, as marcas que mais estão em nossa mente são desenhadas como formas muito simples e muito limpas. As mais poderosas do mundo estão longe de ser complexas. Durante o modernismo (décadas de 50 a 70) no design gráfico, a pregnância se tornou a regra quando o assunto era branding, fazendo nascer clássicos que não sofrem muita alteração até hoje:


 

 

[Página dupla do livro Logo Modernism, de Jens Müller]

Eu sempre gosto de dizer que tudo aquilo que veio depois foi influenciado por esses trinta anos, no que se refere a design gráfico. Mais que nunca, na nova década de 20 e centenário da Gestalt, o modo como formas simples marcam o nosso campo visual afetivo segue tão vivo como nunca. Veja as marcas a seguir e repare no que elas têm em comum:


Tudo bem, eu estou ajudando demais! Todas essas marcas são muito simples, feitas com base em uma forma única. O princípio da pregnância não está na base da Gestalt à toa. No momento em que começo a desenhar uma marca, preciso pensar em algo simples, marcante, que resuma o storytelling da pessoa, produto ou serviço que vai usar aquele símbolo para apresentar-se ao mundo. Mesmo com uma responsabilidade tão complexa, a marca precisa conquistar pela limpeza e pela simplicidade. Como eu ouvi em algum momento da minha vida e nunca esqueci: “uma logo boa deve aparecer bem impressa e legível num fax.”

Será que alguém nessa geração atual sabe o que é um fax?