Caos

Eu ouvi, você ouviu, todo mundo já ouviu: o universo foi criado a partir do caos. Não importa muito a narrativa que você tenha decidido acreditar sobre a criação de todas as coisas, com Artista Protagonista ou não: tudo se criou do meio da bagunça. Eu acredito que a fórmula segue igual até hoje: nossos projetos pessoais nascem em intenção dentro de nós, mas é preciso arrancá-los do meio do caos para que enfim, venham à existência. Se você é imaginativo como eu, já pensou na lógica de um parto, certo? Criar o novo sempre dói.

O Instagram em Festa parecia um projeto pronto e feito, mas aprendemos do pior modo que ele estava longe de ser o que ele foi feito para se tornar. Ensaiamos um lançamento em abril de 2019, à base de muitas (eu disse muitas) conversas. Naquele tempo, a Ju não acreditava (ainda) que poderia executar o projeto sozinha e contava com um sócio, alguém que me parecia ter uma boa rede de relacionamentos e influência. E é tudo o que direi sobre ele. Foi numa reunião, na famosa mesa de madeira da Ju Françozo, no meio do VillareJu (como é conhecida a sua residência, independente do endereço), que conheci um dos profissionais mais pilhados com quem já convivi até hoje. Braços giratórios, volume sempre alto de voz, pupilas que nunca param no lugar. O Fernando me ajudava a ilustrar, nele mesmo, aquele momento caótico de tantas ideias e brainstormings.

Os profissionais envolvidos no projeto expunham grandes currículos. Experiências com grandes marcas. A equipe produtora de vídeo era responsável por programas em um conhecido canal de TV. Algumas conversas me faziam afundar na cadeira. Quem era eu? Eu não tinha nomes fortes na lista de pessoas com quem trabalhei. A minha mente era pura confusão em meio ao tiroteio de insights e contestações. Eu seguia na busca de me reposicionar profissionalmente, mas eu já estava emocionalmente cansado. Mesmo em um lugar seguro, mesmo com o incentivo dos meus amigos e da minha família, o mercado já me lembrava quão implacável era lidar com ele. 

Uma das coisas que faz da Juliana a parceira perfeita de criação é a sede de fazer algo novo. O que muita gente não entende sobre nós, é que a nossa narrativa criativa parte da própria entrega, e quase nunca de um planejamento. Somos do momento. Sentimos agora e expressamos agora. O que fazemos hoje, sairá assim hoje. A repetição não corre amanhã porque amanhã é dia de viver outro sentimento, que causará outra expressão. Na mesma cor, na mesma técnica, com os mesmos instrumentos, mas o produto final nunca será o mesmo. Naquele momento, Ju e eu tínhamos uma sede ávida por chegar a um lugar inédito. Se fazer entender para quem não pensa como a gente é difícil e complexo, como este parágrafo pode ter sido para você.

Fazer essa explicação era a tônica das nossas reuniões sobre como o curso seria lançado. E como eu acabo de dizer, era tudo muito complicado. Foi quando a Ju bateu na mesa e perguntou:

“— Todos aqui buscamos reinvenção, certo?”

Eu balancei a cabeça afirmativamente. E apenas eu. Hoje eu enxergo esse momento com muita maturidade: nem todas as pessoas buscam se superar. São muitos os objetivos que alguém pode querer alcançar, e cada um de nós anseia por algo diferente. Quer saber? Tudo bem com isso! Naquele processo, sentamos com muita gente. Acredite, ouvimos todas as pessoas mais aleatórias que estavam por perto. Juliana queria ter certeza se ela fazia sentido. Mas não fazia para todas as pessoas. Por mais que as ideias fossem muito incríveis (e reconhecidas assim!), as propostas das ações de lançamento pareciam algo difícil demais para ser entendido.

Foi quando paramos diante de um desafio: vamos fazer o instagram da Ju Françozo recomeçar. Reapresentá-la como uma voz de inteligência de negócio, em vez de apenas uma produtora de eventos. “Um bloco de posts preto”, pensei em voz alta. Consegui fazer o Fernando parar e olhar para mim. Foi a primeira vez que tivemos uma ideia conectada, o que faria sentido demais um ano depois. Ele continuou o que eu dizia sem me interromper: “algo que avise à audiência que tudo estava bloqueado, zerado, e dali em diante, a Ju começa de novo e seguimos a linha de publicações até o lançamento”. Eu terminei: “e se quisermos ter informações adicionais, usamos carrossel nos posts laterais para acrescentar”. Parecia uma ideia boa para todos.

 

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Como costuma acontecer quase todas as noites em que estamos reunidos para estudar, Juliana tirou do bolso (que fica entre sua pasta de referências e os cadernos de ideias) uma ideia que nos levava exatamente onde precisávamos. Ela tinha decidido que havia chegado a hora de realizar um de seus sonhos em sua nova identidade: ter fotos numa cortina, com uma impressão meio curiosa e perspicaz, com uma pitada de sensualidade. Cabelos soltos. O passo a afastava da identidade de produtora de festas infantis. Ela ainda não era aquela imagem, mas decidiu se aproximar dela. Deu certo. A pausa não seria preta, mas branca, como uma folha de caderno em branco. Fizemos um ensaio de fotos em nossa amada persiana branca (que a Ju me mata se eu contar como realmente foi feita) e recebi os arquivos alguns dias depois. Ao som de “O caderno”, montei nove posts para dizer que aquela conta de Instagram, tão famosa, nunca mais seria a mesma. Houve luz o suficiente para nos fazer entender que não era nada relevante viver a vida explicando a nossa arte para quem não gostaria de entendê-la. E este foi o que chamo de “primeiro dia”.